FAESC
19 de maio 2025
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19 de maio 2025
Ser produtor rural ou empresário do setor agropecuário no Brasil é, antes de tudo, um ato de bravura e resiliência. Em meio a um cenário permeado por exigências legais, muitas vezes dissonantes da realidade do campo — com legislações ambientais, trabalhistas e sanitárias de aplicação complexa, por vezes incoerentes ou desproporcionais —, os homens e mulheres do campo perseveram, movidos por um inabalável compromisso com a produção de alimentos, com a segurança alimentar da população e com a sustentabilidade dos recursos naturais.
Entretanto, entre todos os desafios enfrentados, o mais desalentador talvez seja o julgamento superficial e, por vezes, hostil de determinados setores da sociedade, que, alheios à complexidade do mundo rural, emitem opiniões depreciativas acerca da agricultura nacional. Tal visão ignora a verdadeira magnitude do agronegócio brasileiro, que, longe de ser um vilão ambiental, constitui-se em uma das maiores conquistas socioeconômicas e tecnológicas da história recente do País.
A agricultura brasileira é motivo de legítimo orgulho nacional. Moderna, eficiente, competitiva e, sobretudo, sustentável, ela é responsável por alimentar cerca de um bilhão de pessoas no mundo, ao mesmo tempo em que abastece com fartura o mercado interno. O Brasil se firmou como um dos principais supridores globais de alimentos, com reputação de confiabilidade e equilíbrio perante centenas de nações.
A máxima de que “onde há segurança alimentar, há paz social” adquire ressonância especial em nosso país. O contínuo avanço tecnológico do setor agrícola e os sucessivos recordes de produção e produtividade transformaram o Brasil em uma potência agroalimentar. Como demonstram os estudos da Embrapa, conduzidos pelo eminente pesquisador Evaristo de Miranda, o impacto dessa revolução agrícola é tangível: em 1970, com um salário mínimo adquiria-se 41 kg de carne de frango; em 2023, esse mesmo salário permitia a compra de 141 kg. O consumo per capita anual, que era de apenas 3 kg na década de 1970, alcançou impressionantes 46 kg em 2024.
Essa democratização do acesso aos alimentos reflete-se nos preços relativos dos itens da cesta básica, que vêm apresentando queda contínua desde 1973. Ademais, pesquisas econômicas reiteradamente demonstram que, onde há crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, há concomitante aumento da renda, da geração de empregos e da qualidade de vida — inclusive nas áreas urbanas.
A revolução vivida pela agricultura brasileira nos últimos 40 anos é de proporções épicas. Em meados do século XX, o Brasil era importador líquido de gêneros essenciais como leite, carne e grãos. Entre 1980 e 2020, a produção de grãos aumentou mais de 400%, enquanto a área cultivada expandiu-se apenas 60%, resultado direto da incorporação de tecnologias avançadas e práticas de manejo sustentável. Atualmente, o Brasil é autossuficiente na maioria dos alimentos básicos (com exceção do trigo) e consolidou-se como o segundo maior exportador mundial de alimentos.
Urge desconstruir a falácia — repetida, mas infundada — que acusa o agronegócio de ser o principal agente de degradação ambiental. Ao contrário, a agropecuária brasileira tem se mostrado zelosa guardiã dos recursos naturais. Os produtores rurais preservam, em suas propriedades privadas, 282,8 milhões de hectares de vegetação nativa — o que representa 33,2% do território nacional. Trata-se de uma contribuição inestimável à conservação ambiental e à mitigação das mudanças climáticas.
Tal realidade foi corroborada por estudos da NASA, que, ao mapear as áreas cultivadas em diversos países, identificou que nações como Dinamarca (76,8%), Ucrânia (74,8%) e Holanda (66,2%) destinam a maior parte de seu território à agricultura. Nos Estados Unidos, esse índice é de 18,3%; na China, 17,7%; e na Argentina, 14%. O Brasil, por sua vez, utiliza apenas 7,6% de sua superfície territorial para a agricultura e pecuária — o menor índice entre os grandes produtores mundiais.
No âmbito estadual, Santa Catarina é exemplo paradigmático de conciliação entre produção e preservação. Dos 375.374 imóveis rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR), que ocupam 7,3 milhões de hectares (76,3% da área estadual), 2,6 milhões de hectares encontram-se destinados à preservação da vegetação nativa — o que corresponde a 28% do território catarinense. Além disso, o Estado conta com 3,06 milhões de hectares protegidos por políticas de conservação e 379,9 mil hectares adicionais em áreas indígenas, unidades de conservação e zonas militares.
Os dados fornecidos por instituições de renome, como a NASA e a Embrapa, atestam de forma inequívoca a sustentabilidade e a solidez da agricultura brasileira e catarinense. Trata-se de um setor vital, não apenas para a economia, mas para a segurança alimentar global, para o equilíbrio ambiental e para o desenvolvimento social do Brasil.
Portanto, é imperativo que a sociedade reconheça, valorize e defenda o papel do agro nacional como verdadeiro sustentáculo da Nação. Porque onde há campo forte, há um Brasil soberano.